segunda-feira, 26 de março de 2012

DISLEXIA


Por Patrícia Louro
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
(Ordem dos Psicólogos Nº 7784)

O MEU FILHO DÁ MUITOS ERROS A LER E A ESCREVER...

A causa maioritária para o insucesso escolar das crianças e jovens remete para as dificuldades na aprendizagem, nomeadamente ao nível da leitura e da escrita, mesmo em casos de crianças/jovens inteligentes. Nos pais mais atentos surgem pensamentos primários que levam a algumas suspeitas: “ela tem boas capacidades mas nota fracas, e ainda lê e escreve com alguma dificuldade”.
Normalmente são os pais ou os professores os primeiros a detectar erros típicos quando a criança lê ou escreve, a perceber que a criança tem dificuldades em interpretar o que lê, e que tem uma escrita ainda confusa e pouco legível para a idade, ou por vezes manifesta alguma confusão em distinguir a mão direita da mão esquerda. Perante situações como estas, os pais ou professores devem ficar mais atentos, pois a criança poderá ser disléxica.
Relativamente a estas dificuldades específicas de aprendizagem, o conceito mais conhecido é de facto a DISLEXIA que está relacionada com as dificuldades na leitura. No entanto, existe outros conceitos que fazem parte do Diagnóstico, a DISORTOGRAFIA que está relacionada com as dificuldades na escrita. A DISGRAFIA com uma escrita ilegível e graficamente emaranhada. A DISCALCULIA com dificuldades ao nível numérico. E, por fim, a DISPRAXIA que remete para dificuldades ao nível da lateralidade (em distinguir o lado direito do esquerdo).
De ressalvar que uma criança disléxica não tem necessariamente de possuir todas estas dificuldades. Embora a Dislexia esteja muito associada à Disortografia, pois normalmente quando existem dificuldades na leitura também se verificam na escrita, mas pode manifestar Dislexia sem Disortografia, ou vice-versa, ou pode manifestar ambas e não manifestar dificuldades no cálculo numérico (Discalculia), ou dificuldades ao nível do grafismo (Disgrafia), ou até mesmo na definição da própria lateralidade (Dispraxia). No fundo, a criança não tem de manifestar todas estas incapacidades em simultâneo. Pois existem crianças disléxicas e inteligentes com grande apetência para cálculo numérico, mas com algumas dificuldades na leitura e/ou na escrita, embora estas dificuldades comprometam de alguma forma a capacidade de aprendizagem e consequentemente, os resultados escolares.
Daí a Avaliação Psicológica com Despiste de Dislexia ser fundamental a um diagnóstico correcto e fiel, que possa contornar os baixos resultados escolares.
Neste sentido de forma a ajudar pais, professores e todos os educadores envolventes, vou descrever os sinais mais comuns na criança/jovem disléxico.

SINAIS MAIS COMUNS:
  • Erros típicos na leitura e na escrita (por ex. troca de letras nh-lh/ p-b-d-p / v-f; e troca de sílabas pra-par /tro-tor; e repetição, adição ou omissão de letras nas palavras);
  • Escrita confusa, imperceptível, ilegível e fora das linhas e das margens;
  • Troca de números (3-8-5 / 6-9 / 1-7);
  • Confusão entre o lado direito e o lado esquerdo, ou sinais maior e menor;
  • Fraca coordenação motora e dificuldade em habilidades manuais;
  • Sem temporalidade definida (ontem, hoje, amanhã);
  • Défice de atenção/concentração;
  • Distrai-se bastante e troca facilmente os conteúdos de alguns assuntos;
  • Dificuldade na memorização;
  • Dificuldade na interpretação do que lê;
  • Não pronuncia bem algumas palavras;
  • Dificuldade em ordenar números, em decorar a tabuada, ou reconhecer as operações de um problema matemático;
  • Crianças apelidadas constantemente de “preguiçosas ou desatentas”;
  • Baixa auto-estima, ansiedade, medos e inseguranças;
  • Rejeição a tarefas que envolvam leitura ou escrita;
  • Vocabulário e sintaxe são mais pobres porque lê menos.
  • Resultados escolares nem sempre satisfatórios;
  • Respostas orais com melhores resultados.
Estes sinais não têm de estar todos presentes no funcionamento da criança/jovem, mas caso manifeste alguns considero importante uma maior atenção pois poderá ser disléxico. Os pais devem ficar atentos e tomar uma atitude rápida na ajuda ao problema do seu filho, mas não necessariamente alarmados porque uma criança disléxica não é portadora de uma deficiência mental, visual, auditiva, física ou múltipla.

A Dislexia corrige-se! Apresenta taxas elevadas de sucesso desde que haja uma avaliação e intervenção rápida!

Existem diversos mitos apontados como a causa para o desenvolvimento da Dislexia. No entanto, do ponto de vista neurológico, uma criança/jovem disléxico manifesta uma percepção distorcida de tudo o que a rodeia, quer do mundo físico, quer do seu próprio corpo, e consequentemente, das letras, números ou esquemas. De acordo com estudos neurológicos, o seu sistema perceptivo dá informações erradas, porque a apreensão que faz é distorcida, o que faz com que a criança/jovem disléxico execute de forma incorrecta. Ou seja, a apreensão que faz das letras, palavras, números, esquemas, quer de forma visual ou auditiva é distorcida, daí a leitura ou a escrita sair com determinados erros.
O diagnóstico de Dislexia só poderá/deverá ser efectuado após a entrada para o 1º ciclo aquando a criança se confronta com o mecanismo da leitura e da escrita. Embora uma criança disléxica manifeste desde muito cedo sinais visíveis da existência de características de Dislexia, uma vez que o processamento distorcido ao nível da percepção começa a manifestar-se desde a 1ª infância, perante o contacto que vai tendo com o meio envolvente.
A Dislexia é uma perturbação do desenvolvimento e no ensino pré-escolar começam desde logo, a surgir alguns indícios mais marcados que podem oferecer pistas para a existência de uma possível criança disléxica. Neste sentido, passo a descrever alguns sinais a ter em atenção durante o ensino pré-escolar:
  • Atraso no desenvolvimento da fala;
  • Dificuldade na articulação de algumas palavras;
  • Défice de atenção;
  • Dificuldade em decorar rimas e canções;
  • Dificuldade em acompanhar a sequência dos factos nas histórias, ou relatar as mesmas com um encadeamento sequencial correcto;
  • Dificuldade em distinguir o lado direito do esquerdo em brincadeiras, jogos ou desenhos;
  • Faz letras e números em espelho;
  • Confunde as cores;
  • Falta de interesse por livros impressos, preferindo livros com imagens ou gravuras;
  • Falta de coordenação motora e menor habilidade para tarefas manuais.
De ressalvar, que estas características podem estar também relacionadas com uma extrema imaturidade emocional, e por vezes desvanecem-se ao longo do desenvolvimento maturacional psico-motor. No entanto, devem ser um sinal de alerta para a entrada no 1º ciclo.
Nesta fase, ou numa fase mais tardia, os pais deverão contactar sempre um Psicólogo, a fim de se efectuar um Despiste de Dislexia, que possa apurar o diagnostico e o nível de Dislexia da criança/jovem. Para se proceder a uma rápida intervenção com o apoio fundamental dos pais e professores.
Em termos escolares, com base num relatório psicológico, serão accionados os meios educativos aos quais a criança/jovem disléxico tem direito em termos de avaliação escolar e de estratégias educativas em sala de aula que possam facilitar a capacidade de aprendizagem (não esquecendo que a criança disléxica é inteligente mas pode estar a ser prejudicada). No fundo, estratégias que protejam a exposição da criança/jovem disléxico em sala de aula, e que estimulem os seus recursos, bem como a motivação e interesse pelas tarefas escolares.
Por outro lado, sugere-se que inicie um Acompanhamento Psicoterapêutico, sistemático e continuado, por um Psicólogo, baseado em actividades reeducativas delineadas consoante as áreas em défice. De forma a ultrapassar as suas lacunas e a estimular os seus recursos sócio-emocionais, uma vez que as crianças/jovens disléxicos apresentam normalmente baixa auto-estima, elevados níveis de ansiedade, inseguranças, timidez e inibição emocional. Para além, de uma intervenção em paralelo dirigida aos pais com estratégias reeducativas, tendo em conta que são pais que tendem a castigar ou a penalizar os erros e o desempenho, o que acaba por reforçar negativamente o problema e prejudicar a estabilidade afectiva da criança/jovem disléxico.
Finalizo com o alerta de que quanto mais tarde for diagnosticado um quadro de Dislexia maiores serão as repercussões negativas na sua estrutura afectiva e mais baixa a taxa de reabilitação terapêutica. Daí sugerir uma Avaliação Psicológica precoce para que a intervenção seja numa fase muito inicial e permita uma maior e melhor correcção com elevada taxa de sucesso!

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